Cavaco-chinês


Inspirei fundo, e enchi o diafragma. E assim tomando fôlego poderia criar coragem, para tentar elucidar a curiosidade que tanto me incomodava. 
- Pai, o que é cavaco-chinês?
Sem ter ciência do que a minha indagação poderia causar, aguardei com apreensão a resposta.
Percebi que minhas palavras instalaram um ar pensativo naquele rosto antes sisudo, sei que elas o levaram a um lugar distante, muito longe... Como se deparasse rente a rua de sua infância, de suas lembranças e de suas saudades.
E depois que a sua barba grisalha se abriu para dar espaço ao sorriso de menino. Ele me explicou que o cavaco-chinês é uma espécie de doce feito de massa de farinha de trigo, sobre forma de cone que mais parece uma casquinha de sorvete, e que o petisco era sempre vendido por figuras que carregavam latões às costas, o qual sempre apregoava o produto por onde passava, no intuito de aguçar a fome dos que o ouvia...
Com certo tom de tristeza mesclada em nostalgia, ele prosseguiu o seu discurso, afirmando que estes personagens foram extintos pela industrialização, que dera espaço aos fast-foods e as entregas a domicílio.
As fagulhas de suas recordações juvenis pesaram em minha consciência, pelo fato de que há poucas horas antes de abordar-lhe com a pergunta inusitada, eu tinha me deparado com um remanescente vendedor de cavaco-chinês, o qual por parcas moedas eu poderia contribuir a perpetuar tênues pedaços de lembranças de uma juventude. E por não cooperar, aquele ser hercúleo seguiu com seus queixumes para sombra da ignorância da nova geração, que paulatinamente o fez naufragar nas brumas do esquecimento.

Por: Rafaela Barreto

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