Dia cheio. A fome e o cansaço disputavam qual dos dois me vencia primeiro. Até que tive a alternativa de atenuar a fome, quando resolvi comer pipocas , convencida pela propaganda do cheiro delas que se propagavam no terminal lotado.
Dirigi-me ao tal profissional do milho, e depois que explicitei o receio da minha preferência, fiquei no aguardo com a boca cheia d’água... Neste curto período de tempo, enquanto o velhinho mexia as pipocas caprichando-a com coco-ralado e leite condensado não pude deixar de ouvir, um pequeno trecho,duma animada conversa que ele estava tendo com um homem mais moço ao lado.Com um ar de orgulho e satisfação o pipoqueiro se garbava de seus 50 anos de casado.E incrédulo, o homem o questionava várias vezes e com mais ênfase a cada vez, se realmente o casamento perlongava-se a todo este tempo.
Recebido a pipoca e o troco, tive que me afastar. Porém não me distanciei da imagem do simples pipoqueiro casado há 50 anos. Mastigava as pipocas e remoia as idéias. – Quem seria sua mulher? O que faria ela da vida? Onde ela estaria agora? Comecei a imaginar como se terá se passado esses 50 anos. Teriam sofrido? Tido privações? Crises? É natural que sim... E aos filhos? Tem ou não? Se tiver quantos são? O quanto ainda se amam? Com a mesma intensidade? O mesmo fervor?
Tive vontade de pergunta-lhe tudo isso. E descobri seu segredo para a sustentação de um casamento de longa data. Mas fui impedida pela timidez e o ônibus que já se aproximava. Não desvendei o mistério, mas ganhei esta crônica. E agora a escrevendo e ao mesmo tempo me indagando, sem saber. O que no futuro será mais difícil de encontrar?! Serão pessoas vendendo pipocas nas ruas, com toda esta correria e modernidade dos tempos. Ou pessoas casadas há mais de 50 anos, com o modismo de relacionamentos rápidos e descompromissados. Enquanto estou neste dilema, a personagem central desta crônica deve está aos braços de sua mulher, ela beijando suas mãos a cada dia mais calejadas de empurrar o carrinho de pipocas, e ele acariciando os cabelos dela a cada dia mais brancos...
Rafaela Barreto
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